segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Parte 2 (Incompleta)

Minha implicância contra a astrologia vinha da infância, em parte por ter observado que muitas pessoas tinham por ela uma dependência subserviente e eme parte por uma predição feita pelo astrólogo de nossa família: “Você se casará três vezes, ficando viúvo em duas ocasiões.” Fiquei preocupado, sentindo-me como um bode à espera de ser sacrificado no altar do templo dos três matrimônios.

É melhor resignar-se ao seu destino – foi o comentário do meu irmão – Seu horóscopo escrito predisse corretamente que, na infância você fugiria

....

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sabedoria

Não acredito em astrologia.

Não se trata de acreditar ou não; a única atitude científica que se deve adotar em relação a qualquer assunto é averiguar a verdade. A lei da gravidade funcionava com a mesma eficiência antes e depois de Newton. O cosmos seria bastante caótico se suas leis não pudessem operar sem o consentimento da crença humana.

Os charlatões trouxeram a ciência dos astros ao descrédito em que se encontra atualmente. A astrologia é vasta demais, sob o ponto de vista matemático e filosófico, para ser entendida de modo correto, exceto por homens de profundo discernimento. Se ignorantes interpretam erradamente os céus e vêem rabiscos em vez de palavras. Isso é de se esperar neste mundo imperfeito. Não devemos descartar a sabedoria junto com o “sábio”. Todas as partes da criação estão conectadas e influenciam-se mutuamente. O ritmo equilibrado do universo fundamenta-se na reciprocidade. O homem, em seu aspecto humano, precisa combater dois tipos de força: primeiro, os tumultos internos, provocados pela mistura de terra, água, fogo, ar e elementos etéreos; segundo, as forças externas e desintegradoras da natureza. Enquanto o homem se debater com sua mortalidade será afetado pelas miríades de mutações do céu e da terra.

A astrologia é o estudo da reação do homem aos estímulos planetários. Os astros não são deliberadamente benevolentes ou hostis; simplesmente enviam radiações positivas ou negativas. Por si só não ajuda, nem prejudicam a humanidade, mas oferecem um canal apropriado para o funcionamento exterior do equilíbrio de causa e efeito que cada homem colocou em movimento no passado.


Uma criança nasce no dia e na hora em que os raios celestes se encontram em harmonia matemática com seu karma individual. O horóscopo é um retrato desafiador do seu passado inalterável e dos prováveis efeitos futuros. Contudo, o mapa astral só pode ser corretamente interpretado por homens de sabedoria intuitiva, que são poucos. A mensagem irrefutável que se anuncia cortando os céus no momento do nascimento não tem o propósito de enfatizar a força do destino, conseqüência do bem e do mal que fizemos no passado; busca despertar no homem a vontade de escapar da escravidão universal. O que foi feito, pode ser desfeito. A própria pessoa provocou as causas cujos efeitos agora predominam na sua vida. O homem pode vencer qualquer limitação, visto que ele mesmo a criou com suas próprias ações; além do mais, possui atributos espirituais que não estão sujeitos a influências planetárias.

O medo supersticioso da astrologia nos transforma em autômatos, enormemente dependentes de orientação mecânica. O homem sábio derrota seus planetas, o que quer dizer, derrota seu passado e transfere sua aliança da criação para o Criador. Quanto mais percebe sua unidade com o Espírito, menos estará sujeito a ser dominado pela matéria. A alma, eternamente livre, não se submete à morte por não ter nascimento e não pode ser regida pelos astros.

O homem é uma alma e tem um corpo. Ao estabelecer corretamente seu senso de identidade, deixa para trás os arquétipos compulsórios. Enquanto permanecer aturdido em seu costumeiro estado de amnésia espiritual, experimentará os grilhões sutis da lei que o circunda.

Deus é harmonia. O devoto que está sintonizado com Ele nunca realizará uma ação imprópria e suas atividades serão corretas, naturalmente ajustadas de acordo com a lei astrológica. Após orar e meditar profundamente ele entra em comunhão com sua consciência divina; não há força mais poderosa do que essa proteção interna.

(...)

Só depois do viajante ter chegado ao seu destino pode prescindir dos mapas. Durante a jornada ele toma qualquer atalho que encurte o seu caminho (...) Há certas características automáticas na lei do karma que podem ser habilmente ajustadas pela utilização da sabedoria. Os males humanos são provenientes de alguma violação da lei universal. As Sagradas Escrituras mostram que o homem deve cumprir as leis da natureza, mas sem deixar de acreditar na onipotência divina. (...) Por diversos meios tais como a oração, a força de vontade, a meditação da yoga, a consulta aos santos, os efeitos adversos das más ações cometidas no passado podem ser diminuídos ou anulados.

Assim como podemos instalar um pára-raios numa casa para atrair as descargas elétricas, da mesma forma o templo do corpo pode se favorecer de certas proteções. (...) Radiações magnéticas e elétricas sutis circulam constantemente no universo. O homem não percebe se seu corpo está sendo beneficiado ou desintegrado.

Trecho do livro "Autobiografia de um Iogue" - Paramahansa Yogananda